Tem gente que pensa ser fácil fazer jornal/livro/revista/caderno especial. Pensar é fácil. Fazer é outra coisa. Senão vejamos:
O “Correião”, jornal Correio Popular de Campinas/SP e tradicional
publicação da RAC – Rede Anhanguera de Comunicação, brindou hoje seus
leitores com um “caderno especial” intitulado “Fórum Campinas + 21” que,
antes de ser impresso e encartado para o público, não deve ter passado
pelas mãos de profissionais com conhecimento de edição.
Neste sentido, o tablóide de 16 páginas, apesar de impresso sobre papel
off-set, chega a ser uma agressão aos olhos de quem entende minimamente
da arte de editar. A começar pelo arranjo gráfico dos elementos na capa é
possível deduzir que o trabalho de planejamento gráfico, edição e
diagramação definitivamente inexistiu.
O trato das fotos também merece ser observado. Só um editor sem
competência, ou totalmente avesso à fotografada, seria capaz de editar
foto de uma ministra de estado em tal situação. Na imagem, a ministra
Maria do Rosário aparece olhando ninguém sabe para onde e com o rosto
deformado pelo movimento de fala da boca. A legenda é um primor:
“Ministra Maria do Rosário em palestra no Campinas +21, no Royal Palm
Plaza Resort”. Mais óbvia impossível. As duas outras fotos da capa não
foram legendadas, nem com texto óbvio.
A página dois recebeu um anúncio oficial da Prefeitura de Jaguariúna o
que demonstra de onde saiu, pelo menos parte dos recursos, para a
pseudo publicação.
Na página três um título que pretende dizer muito mas que, sem aspas e
identificação do autor, acaba não dizendo nada: O amanhã só existirá, se
agirmos hoje – O título está assim mesmo, sem ponto final, contrariando
a regra que determina uso de ponto final em título quando ele
apresentar qualquer outra pontuação, como no caso deste que tem a
vírgula (que até certo ponto seria desnecessária). Duas fotos maiores e
sem legendas se sobrepõem abaixo do título e ao lado de uma coluna de
texto. A primeira, em tamanho um pouco maior é a mesma de uma de capa.
Curiosamente nela aprece em meio ao público mas facilmente identificável
o presidente do grupo RAC Sylvino Godoy e que vai aparecer em mesmo
número de fotos na publicação que o atual prefeito indireto de Campinas,
Pedro Serafim.
Ainda nesta importante página três, o “editor” decidiu colocar uma foto
do presidente do Instituo Sustentar (com a sempre óbvia legenda) acima
de uma outra coluna de texto mais à esquerda da página. Com isto o pobre
leitor não fica sabendo onde começa o texto da página; se é um só ou
dois. A editoração dispensou os espaços de recuo de parágrafos o que
também pode ser considerado no mínimo inadequado em texto com
alinhamento blocado como neste caso.
E, por fim, no pé da preciosa página três, os responsáveis pelo
pastelucho impresso decidiram publicar o “EXPEDIENTE” que apesar de
também ser fundamental numa publicação séria pela importância das
informações que deve apresentar, foi organizado com total desleixo e
desrespeito ao leitor. Diz lá apenas - Realização: Fórum Campinas+21 (o
que isto quer efetivamente dizer afinal?) – Segue uma lista de nomes
identificados como colaboradores que não vou expor aqui (provavelmente
para isentá-los de responsabilidade sobre o pastelhucho) – Fotos:
Martins (quem será esse tal Martins que fez tais fotos, provavelmente
assim identificado para isentar-se também da responsabilidade pela
qualidade, no mínimo discutível) – Distribuição: encarte Jornal correio
Popular – Circulação: Campinas e Região – www.sustentar.com.br –
comunicação@institutosustentar.com.br
Na página 4 sob o chapéu “Campinas” há o título: Choque de gestão e
plano de transparência, seguido da linha fina: Pedro Serafim, Prefeito
de Campinas fala da importância da Sustentabilidade em sua gestão. A
foto, mais uma fez sem legenda (nem a óbvia) foi colocada no início do
texto, prejudicando o leitor para identificar onde é na verdade o começo
dele. O texto aqui foi editorado também em arranjo blocado mas com
recuo para parágrafos exageradamente grandes e usado até indevidamente
onde não havia abertura de parágrafo.
Na página cinco, o título teve suas duas linhas prensada ficando
praticamente sem entrelinhamento. Teria sido em função da enorme
quantidade de texto da página ou para privilegiar as duas fotos de
dirigentes da Anhanguera Educacional que ninguém sabe por que estão ali.
E as legendas, ah as legendas, aqui aparecem em fontes diferentes n a
mesma página e lógico óbvias.
Na página seis a ministra volta a ser o foco e colocaram logo duas
grandes fotos dela na mesma página. Deve ser porque afinal ela é
ministra. Uma das fotos inclusive recebeu a legenda óbvia. A outra ficou
sem legenda. Como uma está ao lado da outra por certo o editor entendeu
que não precisa repetir duas vezes o nome da ministra em duas foto na
mesma página. Se ia mesmo legendar assim, decidiu acertamente. A foto
maior, que deve ter sido produzida pelo tal Martins identificado no
expediente como autor delas, tem mais parede do que ministra, mas isto
deve ser um detalhe da capacidade de criação do autor.
Os títulos voltam a não dizer nada e arranjados de forma assimétrica e
prenssados. As colunas de texto foram formatadas com entrelihamento
irregular causando um desconforto muito grande para quem pretende fazer a
leitura.
Na página sete aparece outra grande foto editada sobre o início do texto
prejudicando o início da leitura. A legenda desta merece destaque,
aliás foi isto que o editor lhe deu pois foi composta em corpo(tamanho
do tipo/letra) muito maior do que a utilizada no texto. E seu conteúdo é
enriquecedor: “ Fernando Garnero em discurso no Campinas+21”. Os
blocos de texto estão novamente com entrelinhamento variado, ora
apertado, ora alargado. E no final do texto há um parágrafo de texto,
pós asterisco, servindo para identificar o autor do texto apesar de não
haver nenhuma assinatura com asterisco no alto da página como indicativo
de texto assinado.
Nas páginas centrais, a oito e nove, o editor resolveu apresentar um
festival de fotos e de legendas óbvias com tamanhos e fontes das mais
diversas. Na abertura da página oito a foto de capa que também apareceu
na página três, voltou a ser editada ainda maior sobre a seguinte
legenda: “Casa cheia e todas as lideranças da RMC presentes nos dois
dias de Fórum”. Nos meus quase 40 anos de jornalismo nunca me deparei
com legenda tão criativa para uma foto que mostra mais o teto do local
do que as pessoas presentes. Detalhe: Sylvino Godoy presidente da RAC,
que deve ter feito a impressão e fez a distribuição do pastelucho está
lá.
O descalabro editorial segue página após página. Vou livrar os leitores
de repetições. Vou apenas fazer uma ressalva para a página nove, nela
tem uma foto, novamente editada sobre a abertura do texto que deve ser
aquelas brincadeiras do editor tipo: descubra o que é a foto e ganhe um
brinde. Tente...
E por fim, fim mesmo, tem um anúncio da Unimed Campinas na página 16 e
última do “pastelucho”. Fico imaginando a cara do comandante da Agência
M51, Orlando Martins, responsável pela conta da Unimed Campinas ao ver
onde ele “enfiou” seu cliente.