quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

UMA MATÉRIA E UMA COLETIVA, 30 ANOS DEPOIS

JORNALISTA/REPÓRTER, SEMPRE!


Em 25 de novembro de 1979, portanto há quase 30 anos (e com apenas um ano de formado em jornalismo pela Pucc) fiz os alicerces da então poderosa CCTC - Companhia Campineira de Transportes Coletivos tremerem.

No alto da capa do então "J"ornal Correio Popular daquela edição de domingo na foto que ilustrava a manchete "Nosso repórter, como cobrador, vê a CCTC por dentro e por fora" aparecia um cobrador que, na realidade, é este jornalista/repórter que, hoje, em homenagem ao DIA DO JORNALISTA, renova o seu aguerrido corpo12 agora transformado em "CORPO 12 SOBRE 14" ou seja, com o espaço entre linhas maior, de forma que o texto fica mais arejado e mais fácil de ler e, por outro lado, no sentido figurativo, pode-se dizer que é "para ser lido nas entrelinhas..."

A MATÉRIA
Alguém já imaginou o que é um repórter ficar "fora da pauta" pelo tempo que for necessário para a aprodução de uma matéria específica? Hoje acho muito difícil acontecer. Naquela época acontecia e até com uma certa frequencia. Foi assim para a realização da matéria de cobrador.

Antonio Carlos Di Julio, o chefe de redação queria que eu e Antonio Carlos Fava fizéssemos uma matéria para descobrir e apontar como e por que faltava troco nos ônibus da CCTC. A idéia era que nós dois viajássemos o dia inteiro, pra lá e pra cá, nas mais diferentes linhas, sentado ao lado do cobrador para observar o trabalho dele. Afinal, todo mundo pensava que o cobrador era o "ladrão do troco".

Discordei e discuti a possibilidade de uma matéria mais profunda, cujo foco não fosse apenas o cobrador. Me prontifiquei a produzi-la. De pronto fui liberado por tempo indeterminado da pauta.

Em mais de um mês de trabalho mostrei que a CCTC tinha mais culpa que o cobrador na questão do troco e muito mais ainda. Apontei descalabros no processo seletivo da empresa, na segurança interna e na relação com seus funcionários. Mostrei irregularidas graves na obtenção de domentos como Carteira de Saúde entre outras e ainda contei histórias emocionantes ouvidas dos "colegas" de trabalho.

Por hora, em função da homenagem ao dia de hoje, disponibilizo apenas as imagens fotográficas das páginas daquela edição. Assim que o texto estiver digitalizado ele virá, na íntegra, para cá. Bem como alguns detalhes do "por dentro da matéria".

A COLETIVA
Por que do título assim? Bem, minha idéia com relação ao "CORPO 12 SOBRE 14" é usá-lo como ferramenta para mostrar o "fazer jornalismo" como deve ser feito, mostrando exemplos de ontem, como é o caso da matéria sobre a CCTC, e de hoje vividos por mim como jornalista/repórter da Agência de Notícias e Editora Comunicativa Ltda na produção de publicações próprias como o Jornal ALTO TAQUARAL ou na prestação de serviços jornalísticos para terceiros como Refinaria de Paulínia/Petrobras; 3M do Brasil e Tetrapck, só para citar alguns.

Desta forma, no dia 26 de janeiro, como editor/repórter do Jornal ALTO TAQUARAL recebi às 10:05 horas, a seguinte mensagem em minha caixa postal:

"Aviso de Pauta
O prefeito de Campinas, Hélio de Oliveira Santos, concede nesta segunda-feira, dia 26 de janeiro, às 11h30, entrevista coletiva na qual serão apresentados os resultados da 1ª reunião de governo e as definições para os próximos seis meses. Os jornalistas serão recebidos na Sala Azul do 4º andar.
Departamento de Comunicação
Prefeitura Municipal de Campinas
Departamento de Comunicação
Prefeitura Municipal de Campinas"


Assim, mais de 30 anos depois de formado, sou informado por mensagem eletrônica recebida às 10;05 horas, informando, sob título de "Aviso de Pauta", que o prefeito vai conceder entrevista coletiva às 11;30 horas. Mais em cima da hora é impossível! Ainda assim consigo chegar ao gabinete uns 10 minutos antes. A diretora de Comunicação, jornalista Luciana Paulo, recebe os jornalistas. Depois se ausenta e só volta ao local por volta de 12 horas. Avisa que "vai demorar mais um minutinho só". Às 12;15 horas ela abre a porta do salão azul onde está o prefeito, o vice e todo o secretariado. Com 45 minutos de atraso vai começar o que a Secretaria de Comunicação Municipal chamou de coletiva.

Como o Secretário de Comunicação Francisco de Lagos é um publicitário não podemos culpá-lo por não saber organizar uma coletiva. Para isto ele tem uma diretora de Comunicação que é jornalista e deveria sabê-lo. Porém, para que o encontro entre Poder Executivo campineiro e jornalistas realizado entre o fim da manhã e o começo da tarde do dia 26 de janeiro pudesse ser considerado uma coletiva, vai ficar faltando muita coisa. Vou tentar apontar algumas:

Primeira:
Antecedência. O comunicado deve ser feito com antecedência mínima plausível para que os colegas das redações possam se preparar para a coletiva. Quando ela é chamada às pressas, em cima da hora, são fadadas ao fracasso.

Segunda: Pontualidade. 45 minutos de atraso é muito, mas muito tempo mesmo, para o dia dos profissionais de redação.

Terceira: Organização. Quando o comunicado é feito com antecedência os profissionais de redação podem confirmar presença e assim facilitar a assessoria na organização. às pressas, na última hora, ou sobram cadeiras porque muitos jornalistas não comparecem ou faltam para atender a todos e os jornalistas devem ter assento de tal forma que possa ficar de frente para todos. Jamais de costas para algum possível entrevistado.

Quarta: Coordenação. Nas estruturas públicas ou privadas onde o assessor é competente e se faz respeitar, é ele quem coordena os trabalhos. O assessor de imprensa não é tarefeiro para ficar buscando pacotes, nem garoto de recado para ficar passando mensagens entre um e outro membro do staff.

Quinta: Material de apoio. Coletiva com profissionalismo e respeito ao trabalho dos colegas de redação exige a distribuição de material de apoio. O assessor que permite ao assessorado ler inúmeras folhas de papel com texto rascunhados para que os jornalistas anotem à mão, não demonstra a mínima competência. Quando houver dificuldades para a entrega dele antes da coletiva ou no início dela, é imprescindível que isto seja feito, pelo menos, ao final do encontro. Não explica, nem justifica dizer que depois o material será enviado.

Sexta: Domínio do assunto. O assessor de imprensa competente é aquele que, respeitado pelos assessorados, participa de todos as reuniões do staff e, portanto, tem domínio do assunto em questão na coletiva. O assessor de imprensa que anota como repórter de redação o que o seu assessorado diz durante a coletiva demonstra apenas que é "peixe fora d'água" ou "carta fora do baralho".

Sétima: Esclarecimento. Por fim uma coletiva deve se pretar a ESCLARECER e não para ANUNCIAR. Assim sendo ela não deve ser aberta com longos discursos ou longas leituras de relatórios como mencionar 80 atividades (alguma detalhadas outras nem tanto) a serem desenvolvidas em determinado período. A menos que a intensão seja mesmo a de impedir que os jornalistas tenham condições de raciocinar sobre o que foi dito.

CONCLUSÃO: Se a coletiva explicitada acima fosse realizada assim, há uns 15/20 anos, seguramente não sobraria pedra sobre pedra. Se por acaso alguém pensou em, deliberadamente, evitar um entendimento maior por parte dos jornalistas (eu acredito mais em imcompetência mesmo) cometeu um grave engano. Se o jornalista não entende, ele também não vai explicar direito e eu duvido que tenha um único jornalista dos que estavam presentes que, ao receber a mensagem com os 80 itens das atividades do governo para os próximos 6 meses, não tenha ficado em dúvida quanto ao número delas (será que foi isto mesmo?) e mais ainda quanto à essência de cada uma (será que ele falou memso em Pronasci? Que diabo é isso?)

Quantos veículos representados na coletiva divulgaram ou vão divulgar na íntegra, para conhecimento da população, a lista com as 80 (será isto mesmo?) iniciativas que o governo Dr. Hélio pretende executar nos próximos 180 dias? O Diário Oficial pelo menos deveria fazê-lo. Quem vai cobrar depois?

Jornalismo é coisa séria e o governo Dr. Hélio decidiu não mudar nada nesta área em sua segunda gestão. Pela primeira coletiva deu mostras que falta um profissional de jornalismo competente e respeitado pelos demais profissionais da área dentro e fora do Paço Municipal, para atuar reportando diretamente ao gabinete. Subordinar um trabalho deste a um profissional da da área de publicidade e propaganda com foco em marketing político como é o caso do agora Secretário de Comunicação Francisco de Lagos é, no mínimo, um risco muito grande.

Em tempo: não faço, por princípio, assessoria de imprensa para políticos.
O que acabo de descrever é uma das causas.

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